Jesus ia pelo caminho das aldeias,
rodeado de pessoas, como de costume, quando um jovem apressadamente se
ajoelha diante dEle: “Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?”
Mc 10:17. Esta poderia ser a forma perfeita de culto: Prostra-se diante
do Mestre, indagando-O sobre a vida eterna, chamando-O de bom. Um homem
rico, bem trajado, sujando as vestes na terra e humilhando-se diante de
muitas pessoas, quem não o julgaria santo? Respondeu Jesus: “Tu sabes o
mandamento: Não adulterarás; não matarás, não furtarás, não dirás falso
testemunho, não defraudarás alguém, honra teu pai e tua mãe” 10:19
E o jovem como querendo se justificar
replica: "Mestre, tudo isso guardei desde a minha mocidade!"10:20. As
pessoas presentes, devem ter se impressionado com o jovem. Ele era mais
digno que todos os demais que estavam ali em busca do perdão dos
pecados. Ele não tinha pecados! Mas o Reino dos céus não vem com
aparência exterior Lc 17:20. Jesus conhecia o “ponto fraco” do rapaz, e
falou-lhe o que precisava ouvir e não o que queria ouvir:“Vai, vende
tudo quanto tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem,
toma a tua cruz e segue-me. Mas ele pesaroso desta palavra, retirou-se
triste porque possuía muitas propriedades” Mc 10:21-22.
Aquele homem era idolatra, avareza era
seu mal, dinheiro seu deus. Ele preferiu seguir sem Jesus, a abrir mão
de tudo. E o que mais mexe comigo, nesta narrativa é o verso: “E Jesus,
olhando para ele o amou”Mc 10:21. Apesar de toda miséria, rebeldia, e
impureza que havia naquela vida: Jesus amava. Muitas vezes não
conseguimos distinguir entre pecador e pecado e passamos a abominar as
pessoas em virtude do que fazem, ou deixam de fazer. Tudo porque
falta-nos amor, este dom precioso que capacita o coração a ir além das
aparências, acolher as virtudes e transformar os vícios.
E
quando o jovem sai de cena, ficam só Jesus e os discípulos. O clima era
de velório, porque a perfeição do amor de Jesus, não foi capaz de
alcançar aquela vida aprisionada ao mundo. O coração do jovem estava
endurecido, impenetrável: “Então Jesus olhando em redor, disse aos
discípulos: Quão dificilmente entrarão no reino de Deus os que possuem
riquezas” Mc 10:23 e os que se deixam possuir por elas. Ser rico, não
era o problema, mas sim ser avarento (I Tm 6:10)
Outro aspecto que me chama atenção é
que na ausência do jovem, Jesus ali mesmo, diz aos discípulos: “Em
verdade vos digo que ninguém haja que tenha deixado tudo, por amor de
mim e do Evangelho, que não receba cem vezes mais, já neste tempo e no
século futuro a vida eterna.” Mc 10:29, 30. Jesus não fala isto para o
jovem! Ele não diz: Vem, segue-me, renuncia a tudo que tens e serás
milionário e salvo! Jesus não apresentou as facilidades, mas a cruz! “A
melhor parte” da história não foi revelada ao jovem, mas ele descobriria
se decidisse seguir Jesus. Sim, os que aceitam a cruz, recebem as
dádivas. Esta é a ordem do Reino (Mt 6:33).
O grave problema do cristianismo hoje é
apresentar o inverso: Vem para Cristo e receberás riquezas, ou dê-me as
riquezas e receberás o Reino. Não! Jesus disse: Vem, toma a tua cruz e
segue-me. Mc 10: 21.
A Insuficiência das Obras Para a Salvação Ef 2:8
O jovem que foi ao encontro de Jesus,
era um religioso. Ele seguia “mandamento sobre mandamento, regra sobre
regra” Is 28:13 a fim de sentir-se salvo, mas era infeliz. Algo estava
errado, e tinha a ver com seu orgulho. Ele precisava entregar o coração,
Jesus não invade esse terreno, Ele aceita alegremente o convite de
habitar nele: “Dá-me filho meu, o teu coração, e os teus olhos observem
os meus caminhos” PV 23:26. O jovem não entregou o coração e errou o
caminho do céu. Ele encontrou Jesus no caminho, mas ignorou a grandeza
do encontro.
Que Deus nos ajude a estarmos
prostrados diante dEle em temor e tremor, em plena certeza de que Sua
presença é o bem mais precioso, o único e imutável tesouro. Que em
nossos corações não haja reservas, pecados não confessados, mas que haja
entrega, gratidão: “Porque com alegria saireis, e em paz sereis
guiados; os montes e os outeiros romperão em cântico diante de vós...E o
senhor te guiará continuamente , como um manancial cujas águas nunca
faltam” Is 55:12 e 58:11. Ter um encontro real com Jesus produz alegria,
gozo e não pesar como aconteceu com o jovem rico ao partir. Mc 10:21. O
problema, é que ele escolheu partir sem Cristo.
Ao tempo em que o encontro do jovem com Jesus nos apresenta a
necessidade de renunciar ao mundo, também aponta para a fragilidade das
obras como mérito salvítico. E ainda, traz á tona um erro tão freqüente
em nossos dias, mais conhecido como “evangelho da prosperidade”. Se
aquele jovem adentrasse em certas igrejas do mundo moderno, sairia
“feliz” por encontrar uma porta bem larga recepcionando-o como filho do
reino, por cumprir à risca a lei e ter muitos recursos para ofertar.
Promessas de bênçãos “choveriam” sobre sua cabeça.
A história deste jovem é semelhante a tantas outras que encontram nas
riquezas a motivação para a vida. Mãos cheias e corações vazios.
Ganhando o mundo e perdendo a alma: "Louco, esta noite te pedirão a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será?" Lucas 12:20.
Como encontrar Jesus e não se deixar tocar por Ele? Jesus é o Senhor dos
corações, no âmago da alma é o lugar que Ele almeja chegar. Somente
esse “mergulho” do natural no sobrenatural, do velho para o novo, do
exterior para o interior é capaz de produzir nova vida. Jesus, não
invade corações, mas gentil e amorosamente aceita o convite para nele
morar. E quando Ele chega é como a Luz, dissipando as trevas, o calor,
aquecendo o gelo, o machado despedaçando a rigidez. Aquele jovem, não se
deixou tocar, formou barreira, rejeitou a mais perfeita forma de amor. O
jovem era um amante das “riquezas” e agarrava-se a elas como o bem mais
precioso
“E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até a morte”. Ap 12:11.
Somente em Cristo Jesus reside a Salvação, somente através do Seu sangue
é possível vencer o mundo. Que essa triste história, de final infeliz,
nos conduza a uma profunda reflexão sobre a vida e a morte. Que em
nossos corações reine a alegria do encontro com Jesus. Ele é Rei, somos
seus servos. Mas Ele nos fez herdeiros de uma viva esperança, maior e
melhor que todos os tesouros terrenos. Ele nos ama, infinitamente mais
que pensamos ou conhecemos. Ele quer inundar nosso coração de alegria e
nos prosperar em todos os nossos caminhos. Mas, jamais podemos segui-Lo
sem abraçar Sua cruz, porque foi nela que Ele nos acolheu.