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A vida religiosa é, antes de
tudo, uma iniciativa de Deus na vida do batizado. Na gratuidade o Senhor
chama o ser humano a uma íntima comunhão com Ele, convidando-o a
conformar sua vida à do Cristo sob a atração do Espírito. E esta
consagração específica está a serviço do Reino, projeto fundamental da
missão de Jesus.
A livre
aceitação desta imerecida predileção de amor do Pai, leva a pessoa a um
aprofundamento de sua consagração batismal. Assume, em liberdade, uma
vida cristiforme mediante a vivência dos conselhos evangélicos. É dentro
da comunidade da Igreja que essa consagração adquire seu pleno
significado.
O carisma da vida
religiosa consagrada é essencialmente eclesial, sendo no interior da
Igreja sinal e memória, testemunho e profecia dos valores centrais do
Evangelho e do Reino.
A vida
consagrada, de fato, "é uma diaconia para o Reino, de caráter público,
provocativo, comunitário, criativo, audacioso, arraigado na experiência
contemplativa de Deus que plasmou a vida e o seu destino"¹.
2. Em busca de uma vida cristiforme
O consagrado aspira a uma vida
em crescente conformação com Cristo. Procura assimilar cada vez mais o
estilo de vida de Jesus no seu modo de ser e agir. Semelhante programa
de vida é normativo para todos os batizados e não algo privativo de
eleitos! O religioso consagrado - por pura graça divina - é convidado a
aprofundar e radicalizar o comum seguimento do Senhor na realidade
histórica de hoje.
A vida
consagrada tem, na Igreja, "a missão de fazer com que resplandeça a
forma de vida de Cristo, por meio do testemunho dos conselhos
evangélicos, para sustento da fidelidade de todo o Corpo de Cristo"².
3. A comunhão pessoal com o Senhor
Se a vida religiosa brota de um
projeto de amor do Pai, no seguimento de Jesus, pela força do Espírito
Santo, ela exige, por coerência interna, uma comunhão contínua com o
Senhor. Deve expressar a primazia de Deus, fonte de seu sentido e
realização, pois o homem - no dizer de Santo Agostinho (+ 430) - está
feito para Deus e vive inquieto até encontrar Nele a paz. Coloca-se para
o religioso a exigência incontornável de alimentar-se de uma
espiritualidade sólida e profunda.
"Podemos dizer que a vida espiritual, considerada como vida em Cristo, vida segundo o Espírito, se apresenta como um itinerário de crescente fidelidade, onde a pessoa consagrada é guiada pelo Espírito e por Ele configurada com Cristo, em plena comunhão de amor e de serviço na Igreja." (João Paulo II. A Vida Consagrada: exortação apostólica pós-sinodal sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo (23-3-1996).Trata-se de uma experiência de partilha de vida com o Senhor, de uma graça especial de intimidade com Ele. O próprio significado da vida religiosa e seu dinamismo interno dependem desse impulso espiritual, sem o qual ela se esvazia e descaracteriza. Abrange, substancialmente, uma fidelidade progressiva para responder à superabundância do amor divino na pessoa do religioso. Quem, de fato, entrega livremente sua própria vida a Cristo vive no desejo de se encontrar com Ele, para estar finalmente e para sempre com o Senhor!
4. Escuta da Palavra e oração incessante
A Palavra de Deus é a primeira fonte
da vida cristã. Sustenta na Igreja o relacionamento pessoal e
comunitário com o Senhor. A renovada escuta da Palavra de Deus
interpela, orienta e plasma a existência dos consagrados. É através dela
que o Senhor se revela, e educa coração e inteligência do discípulo.
Faz amadurecer igualmente a visão de fé, pois aprende-se a olhar a
realidade e os acontecimentos com o mesmo olhar de Deus até chegar a ter
o "pensamento de Cristo" (1Cor 2, 16). Um meio privilegiado que
diariamente, nos coloca em contato íntimo com a Palavra de Deus é a
celebração da eucaristia e seu prolongamento na Liturgia das Horas.
A
eucaristia, como memorial pascal do Senhor, é o coração da vida da
Igreja. Nela se encontram todas as formas de oração: "proclama-se e é
acolhida a Palavra de Deus, somos interpelados a respeito de nossa
relação com Deus, com os irmãos e com todos os homens: é o sacramento da
filiação, da fraternidade e da missão. Sacramento da unidade com
Cristo, a Eucaristia é contemporaneamente sacramento da unidade eclesial
e da unidade da comunidade dos consagrados.
A
Liturgia das Horas, por sua vez, insere nosso dia-a-dia no tempo de
Deus e assim o "santifica" no sentido genuíno do termo. Para o
religioso, a celebração da liturgia das horas deveria ser motivo de
gratidão e alegria. Expressa seu mais profundo anseio: estar em comunhão
permanente com o Senhor.
"Frequentemente, no entanto, a realidade é outra. Não poucas comunidades religiosas de vida apostólica perderam (ou nunca tiveram!) o gosto pelo Ofício Divino e caíram na apatia, no formalismo ou na rotina. É verdade que não devam ser minimalizadas as dificuldades em relação a esta oração da Igreja. Nota-se, muitas vezes, uma falta de formação, particularmente na jovem geração de consagrados, no que diz respeito à Liturgia das Horas".
Não
é segredo para ninguém que uma celebração significativa da oração
pública da Igreja exige uma introdução catequética adequada. Garantida
esta, a Liturgia das Horas pode tornar-se para os consagrados um
verdadeiro "kairós", um tempo de graça, pelas riquezas espirituais e
potencialidades orantes que representa.
Apresenta-se,
igualmente, como uma expressão eloquente da vida comunitária na
caridade fraterna pela qual os religiosos são chamados a serem sinais e
testemunhas da Igreja.
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