domingo, 3 de junho de 2012

Como já tivemos oportunidade de refletir nos pontos anteriores, a catequese tem o seu ambiente vital na comunidade cristã e, portanto, a catequese dos adultos, que formam a base das comunidades cristãs e orientam a vida social, cultural e familiar, é a referência, o eixo ou princípio organizador em volta da qual se estrutura a catequese das diferentes idades, concretamente a da infância e adolescência (Cf OCA 6).

No despertar da vocação e no discernimento vocacional, as etapas de catequese da infância, adolescência e juventude, sobretudo as últimas duas são as mais adequadas.

Entendida a vocação como chamamento à vida que, para nós cristãos se realiza através do Batismo, integrando-nos no projeto de Jesus que nos chama a ser seus seguidores e se desenvolve através dos outros sacramentos, em ministérios diversos, ao serviço da igreja e da sociedade, a catequese da adolescência que gira, precisamente, à volta de dois pólos: o sentido da vida e o compromisso cristão, pode e deve ser um grande meio para despertar e orientar a dimensão vocacional do batizado.



2.1.De acordo com o Documento da CEP (OCA 6), a 3ª etapa do itinerário da catequese da infância e adolescência está centrada no sentido da vida. Assim, o catecismo do 7º ano «Projeto +» e do 8º ano «Somos +», tendo em conta as características próprias desta fase etária: mudanças físicas, psicológicas e afectivas, valorização da vida em grupo, procura de valores, visam ajudar o pré-adolescente (12 a 14 anos) na busca de sentido para a vida, na descoberta do sentido cristão da vida, acolhendo o projeto de Jesus, de modo a integrá-lo progressivamente no projeto individual e de grupo, renovando o sim a Jesus Cristo como atitude iluminadora da sua existência.

As catequeses do 7º ano ajudam à descoberta da identidade pessoal, adquirindo particular importância a descoberta do sentido cristão da corporeidade e a definição de um projeto de vida feliz, baseado na interiorização dos valores que Jesus nos propõe

As catequeses do 8º ano estão mais voltadas para a dimensão relacional e comunitária de todo o ser humano e em particular do pré-adolescente. Viver a alegria e a esperança em comunidade, em Igreja, como adesão ao projeto de Jesus. Comprometer-se a ser sal e luz na sociedade em que vivemos .

Para cada um destes anos está prevista uma celebração festiva. No 7º ano, a «Festa das Bem-aventuranças», que é uma síntese do projeto de Jesus e no 8º ano a «Festa da Vida», com a entrega da cruz, o sinal da doação da vida de Jesus por amor, para nos dar a vida.

Em muitas das catequeses do 7º e do 8º anos são apresentadas testemunhas de opções vocacionais ao serviço da Igreja e da sociedade e que, nesta fase etária são importantes como modelos de vida a imitar. Cito como exemplos: Madre Teresa de Calcutá, João Paulo II, S. Francisco de Assis, Padre Américo, Ginetta Calliari, Irmã Clara, Santa Isabel de Portugal, P. Damião, D. Helder Câmara, etc.



2.2. A quarta etapa de catequese está centrada no compromisso cristão. Assim, o catecismo do 9º ano «O desafio de Viver» e o catecismo do 10º ano «A Alegria de Crer», tendo em conta as características próprias desta fase etária: estruturação da personalidade, necessidade de assumir pessoalmente a fé, preocupação com o futuro, definição de opções-vocação, idealismo e generosidade, procura da verdade, pretendem preparar o adolescente (14 a 16 anos), para assumir o compromisso cristão, entendendo este como o compromisso na transformação das realidades sociais, o compromisso eclesial e o compromisso missionário.

As catequeses do 9º ano, centram-se na apresentação da fé que se vive, por dois motivos: para se chegar a um compromisso cristão, é necessário uma interpretação cristã da vida e porque esta é uma etapa de crescimento marcada pela construção da identidade e pelo discernimento vocacional, que exige este género de conteúdos.

As catequeses do 10º ano, centram-se na fé que se professa, se celebra e se reza. Trata-se de aprofundar o Credo e de descobrir a celebração dos Sacramentos como encontros vitais com o Senhor ressuscitado, agrupando-os em Sacramentos de iniciação, Sacramentos de cura e Sacramentos de serviço. Realçam-se estes últimos que marcam duas vocações fundamentais na Igreja: a Ordem e o Matrimónio.

As duas festas previstas para esta fase: a Festa do Compromisso, no 9º ano e a do Envio (Crisma) no 10º ano, celebram o que foi interiorizado ao longo do itinerário catequético de cada ano e aprofundam o grande objectivo da última fase da catequese da infância e adolescência: o compromisso com Deus (na oração), com a vida (por uma opção vocacional), com a comunidade cristã (nos diversos ministérios e serviços) e com o mundo (no compromisso pela justiça e na solidariedade com os mais necessitados).

Em síntese, a catequese da terceira e quarta etapas, procura ajudar os adolescentes, que estão na idade de fazer opções a compreender que a opção por Jesus Cristo é a mais bela que poderão fazer e que deixará marcas positivas para uma vida inteira. Pois é Jesus Cristo que dá verdadeiro sentido à vida pessoal de cada um, na realização dos diversos caminhos, ou opções vocacionais ao serviço da igreja e do mundo .

Este itinerário catequético bem realizado pode e deve ser uma óptima oportunidade para levar o pré-adolescente a despertar para a vocação como um chamamento de Deus a viver a vida com sentido, descobrindo no projeto de Jesus, que assumiu pelo batismo, na vivência dos valores que Ele propõe, a base para a realização dos diversos caminhos vocacionais a que o Senhor o chama com absoluta liberdade e ao qual deve responder numa atitude de fé e confiança, pois Ele continua a iluminar com a Sua Palavra e a animar com o dom do Seu Espírito.

No entanto, todos nós experimentamos como é difícil realizar a tarefa da educação da fé em todas as dimensões da vida cristã, concretamente a vocacional. Por isso, fazer catequese é um permanente desafio à nossa própria fé, à esperança e à criatividade pastoral. Tal como afirma o DGC, referindo-se a estas duas etapas, à catequese dos pré-adolescentes e adolescentes e jovens, a «crise espiritual e cultural que oprimem o mundo faz as suas primeiras vítimas nas gerações mais jovens. Mas também é verdade que o empenhamento em favor de uma sociedade melhor encontra neles as suas melhores esperanças» (DGC 181). Se, por um lado, a Igreja vê os jovens como «esperança», pois é «forte e impetuoso, em muitos jovens, o impulso para a procura de sentido, para a solidariedade, para o empenhamento social, para uma experiência religiosa pessoal, (…) por outro lado, vê o mundo da juventude como o mundo do desencanto, do tédio e até mesmo da angústia e da marginalização. O distanciamento da Igreja, ou pelo menos, uma atitude de desconfiança em relação a ela, é em muitos jovens um comportamento de fundo» (DGC 182).

No ministério de catequistas não podemos deixar de ter tudo isto em conta. Como afirma o DGC, este «serviço deve compreender antes de mais, as luzes e as sombras da condição juvenil, tal como existem, concretamente, nas diversas regiões e ambientes da vida. (…) O coração da catequese será sempre a proposta explícita de Cristo ao jovem do Evangelho, proposta dirigida a todos os jovens com a preocupação de compreender os seus problemas, de lhes revelar a sua singular riqueza e ao mesmo tempo compromete-los num projeto de crescimento pessoal e comunitário de um valor fundamental para os destinos da sociedade e da Igreja. Por isso, os jovens não devem ser apenas considerados como objeto da catequese, mas como sujeitos ativos, protagonistas da evangelização e artífices da renovação social» (DGC 183)





  1. 3. O Catequista é agente e destinatário da vocação



- Uma catequese bem realizada é sempre vocacional, na medida em que favorece o encontro com Deus e gera diálogo que implica respostas pessoais, isto é, ao apresentar uma proposta ou interpelação, a partir da Palavra de Deus, provoca-se uma confrontação que suscita uma resposta.

A catequese deve pois, guiar os crentes, particularmente os jovens, na escola da Palavra de Deus, preparando-os para acolher a própria vocação, como resposta ao chamamento de Deus. De um conjunto de «sim» dado hoje e amanhã em caminhada de fé, pode surgir uma vocação de especial consagração tanto na pessoa do catequista, como do catequizando.



- Muitas das catequeses das duas etapas antes mencionadas têm um cunho vocacional e oferecem oportunidade de nos colocarmos a nós e aos nossos catequizandos em dinamismo vocacional. Se qualquer vocação é dom, é graça de Deus, ela é também resultado da ação humana, que responde pessoalmente, ou é mediação da proposta que Deus quer dirigir a outros.

Neste sentido, o catequista deve ser o amigo que faz caminho com os destinatários da catequese para os ajudarem a discernir a vocação a que Deus os chama. É necessário acompanhar e deixar-se acompanhar, mediante um diálogo pessoal, de modo a ir-se lendo os sinais através dos quais Deus se está a manifestar. O catequista é este grande agente de discernimento vocacional. Quantas vocações começam a germinar nos primeiros anos de catequese, que se vão estruturando e se especificam na adolescência e juventude?!



- Por vezes, não basta propor a vocação, é preciso ter a ousadia de chamar pessoalmente e de colocar, com alegria e entusiasmo, a questão de uma vocação específica, àqueles que estão em estado de opção e, nesse sentido os catequistas são mediadores para que o chamamento de Deus, hoje se faça ouvir.



- O futuro das vocações está nas mãos de Deus, mas de certo modo está também nas mãos de cada um de nós. É urgente que assumamos a condição de mediadores de Deus, que hoje como ontem continua a segredar: «Vem e segue-Me» (Mc 10, 21). Como afirmava o Papa João Paulo II na Exortação Apostólica Pastores Dabo Vobis: «A Igreja é chamada a proteger este dom (as vocações), a estimá-lo e a amá-lo: ela é responsável pelo nascimento e pela maturação das vocações sacerdotais» (PDV 41).



E termino com as palavras do Papa Bento XVI, na sua mensagem para este 48º Dia Mundial pelas Vocações, com o tema: «Propor as vocações na igreja local»:

«É preciso que cada Igreja local se torne cada vez mais sensível e atenta à pastoral vocacional, educando a nível familiar, paroquial e associativo, sobretudo os adolescentes e jovens – como Jesus fez com os discípulos – para maturarem uma amizade genuína e afetuosa com o Senhor, cultivada na oração pessoal e litúrgica; para aprenderem a escuta atenta e frutuosa da Palavra de Deus, através de uma familiaridade crescente com as Escrituras. (…) Convictos da sua missão educativa, os catequistas e os animadores das associações católicas e dos movimentos eclesiais de tal forma procurem cultivar o espírito dos adolescentes a si confiados que eles possam sentir e seguir de bom grado a vocação divina».



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