segunda-feira, 25 de junho de 2012

Discernimento Vocacional- www.mscs.org.br e-mail: vocacoesmscs@uol.com.br
O chamado de Deus, nunca chega diretamente à pessoa humana, sempre aparece revestido de situações e circunstâncias nas quais nem sempre é fácil perceber com clareza que se trata de um chamamento divino (Ex 3, 1-10).
Deus chama através de pessoas (Jo 1, 35-36) e de situações (Jz 6, 1-24), ou das duas coisas ao mesmo tempo (1Sm 3, 1-21).
Deus nos criou seres humanos livres. Ele respeita nossa liberdade. Seu jeito de chamar as pessoas se dá em forma de diálogo. Deus propõe, interpela, nunca impõe (Mt 19,21). O ser humano permanece livre, inclusive com a possibilidade de rejeitar a proposta divina (Mt 19,22).
A vocação é um processo. Ela vai acontecendo aos poucos. O Jovem e a Jovem não entendem tudo de imediato, precisam fazer um caminho. À medida que caminham, vão descobrindo a vontade de Deus e abraçando um projeto de vida. Por tanto precisam de ajuda, uma vez que não é possível caminhar sozinhos.
O discernimento vocacional é a vivência desse processo. É o colocar-se a caminho e, por etapas, procurar compreender o que Deus quer. Em seu caminhar, o jovem e a jovem vão sendo ajudados por pessoas que já percorreram boa parte deste caminho.
O discernimento é descobrir quais são as atitudes que ajudam que facilitam e garantem a capacidade de distinguir o verdadeiro chamado de Deus de possíveis alarmes, ilusões ou coisas semelhantes. A figura do orientador vocacional é muito importante, como companheiro de quem caminha, procura ajudar o jovem a perceber com mais clareza a voz de Deus que chama.
Atitudes básicas para o discernimento vocacional
A vocação é uma iniciativa por parte do Pai (Jô 6, 44); é mediante a escolha feita por Jesus (Jo 15, 16); é pela ação do Espírito que nos envia em missão (At 13, 14).
A primeira atitude básica para compreender e assumir o chamado divino é a Fé, entendida como disponibilidade total para escutar o Senhor que fala nas diversas situações de nossa vida e por meio de diferentes pessoas (1Sm 3,10).
O discernimento vocacional é, antes de tudo, educar-se, para o silêncio, afinando o ouvido para escutar o que Deus tem a nos dizer. Discernir é reconhecer a presença de Deus em nossa vida, reconhecê-lo nas outras pessoas e nos acontecimentos do dia a dia. Sem esta fé, é praticamente impossível chegar a uma percepção clara daquilo que Deus esta querendo.
Cultivando a fé, o jovem pode sempre dar um rumo novo à sua caminhada, tendo coragem de abandonar rotas e caminhos que o estavam levando a outras partes. A fé provoca a conversão, ou seja, a mudança radical de mentalidade, atitudes, comportamentos que poderiam desviar a pessoa do verdadeiro chamado de Deus. O serviço do assessor é ajudar o jovem a ser uma pessoa de fé. Essa escuta da fé geralmente se dá na comunidade. O discernimento vocacional supõe uma participação, um engajamento concreto. Não é possível descobrir o que Deus quer sem a inserção na comunidade eclesial. A experiência e a vida das outras pessoas que estão na caminhada tornam-se um estímulo e um incentivo para quem quer perceber e assumir a própria vocação. Ajudar no discernimento vocacional é, em primeiro lugar, contribuir para que o jovem e a jovem tomem parte ativa na vida da comunidade local. Os apelos de Deus vão se tornando mais claros à medida que a pessoa vai assumindo sua vocação batismal. Na comunidade, os jovens encontram um terreno para o amadurecimento humano, cristão e apostólico. A participação ativa dará ao jovem a possibilidade de entender que Deus nos chama para servir, para “lavar os pés” dos irmãos (Jo 13, 1-17). Fazer discernimento vocacional é ir aos poucos percebendo que o Senhor nos chama para uma missão em favor das outras pessoas. O discernimento é um exercício para sair de si mesmo e ir ao encontro de quem está precisando (Ex 3, 7-10).
Motivações vocações interiores
Deus não age diretamente, mas através de mediações (pessoas e fatos), é normal que Deus se sirva de situações humanas e históricas para dar início ao diálogo vocacional com o homem e a mulher. Entre essas mediações estão as motivações. Estas são as conjuntas de fatores psicológicos, conscientes ou inconscientes, que agem entre si e chegam mesmo a determinar a conduta ou comportamento da pessoa humana.
A pessoa precisa de alguém que possa orientá-la, pois é muito difícil o ser humano, sozinho, se dar conta dessa realidade.
Diversos tipos de motivações: insuficientes ou inadequadas, inválidas (infantis, emocionais, egocêntricas), válidas, maduras, adequadas, afloram de forma bem diferentes. Sintomas negativos destacam-se: fuga da realidade, busca de proteção e segurança, desejo de tirar proveito, imediatismo e precipitação, visão unilateral da vida, desejo de obter benefícios em favor de si mesmo, rigorismo, austeridade exagerada, moralismo, fuga de traumas…
Estas situações não devem ser descartadas, uma vez que Deus pode se servir também delas para chamar alguém. A questão está em ajudar ao vocacionado a transformar todas essas motivações na que é a motivação adequada, madura, evangélica.
A verdadeira motivação vocacional é aquela que nasce da liberdade, do desenvolvimento equilibrado da personalidade, do desejo exclusivo de seguir a Jesus Cristo.
Maturidade psicológica
A resposta ao chamamento divino se dá num contexto de maturidade psicológica. Para chegar ao discernimento vocacional, a pessoa deverá estar em condições de perceber com clareza os acontecimentos de sua vida e da realidade social, política, econômica e cultural na qual está inserida.
Além da capacidade de percepção, é preciso que o jovem saiba fazer uma correta interpretação desses fatos, à luz da fé na Palavra de Deus, de modo que consiga, descobrir o que Deus quer deles naquele momento histórico bem concreto. Essa maturidade se dá em diversos níveis bem integrados entre si. Um primeiro nível é aquele do emocional, sabendo lidar com as próprias emoções, sem descontroles e exageros.
Outro nível é da sexualidade, a pessoa precisa amadurecer sua compreensão de si e das relações com as outras pessoas. Um terceiro nível é o da sociabilidade. Aqui a pessoa deverá chegar à capacidade de ser livre, sincera, autêntica, cultivando relações sociais estáveis. É importante verificar se o jovem consegue abrir-se para a socialização, ou seja, para a comunhão e a participação, para a vida em grupo, em comunidade. A maturidade passa também pelo âmbito da intelectualidade.
Também importante para um bom discernimento vocacional que a pessoa tenha capacidade de compreender as coisas, senso crítico e percepção do sentido de suas ações e que seja alguém interessado, não ingênuo, não dependente, cujo comportamento segue um ideal assumido, a consciência pessoal, a responsabilidade e a convicção.
A maturidade psicológica está sempre em fase de crescimento e de desenvolvimento. Não somos seres perfeitos, nunca chegamos ao termo, sempre precisados de escuta, sempre curiosos de conhecer os talentos que temos de desenvolver, sempre em formação permanente.Sendo a vocação algo muito sério, capaz de marcar para sempre a existência da pessoa, é indispensável que a opção final se dê num clima de liberdade, aptidão e responsabilidade. A pessoa precisa chegar a um nível de maturidade que lhe garanta o bom desempenho de sua missão, além da perseverança e da fidelidade.
Alguns critérios para o Discernimento Vocacional
Critérios Bíblicos e teológicos
Olhando a Palavra de Deus, vamos perceber que a vida humana é um perene caminho. Isso significa que não existe um ser humano perfeito, terminado, definido. Estamos sempre em construção, a caminho da santidade. Existe uma vocação fundamental que é a santidade, para a qual todas as pessoas são chamadas. Tal vocação nasce com o batismo, daqui brotam as vocações específicas, de acordo com a criatividade do Espírito Santo que sempre sopra onde quer e quando quer, não estando condicionado aos controles, caprichos e manipulações humanas.
O Espírito Santo suscita uma multiplicidade e uma diversidade de dons, carismas, ministérios, serviços para o bem de toda a comunidade. A pessoa que orienta os jovens procurará não direcioná-los de acordo com a vontade e o gosto pessoal, mas terá cuidado de ser apenas alguém que colabora para que sigam as indicações do projeto de Deus.
O orientador evitará apoderar-se das pessoas como se fossem suas propriedades particulares. Será apenas um companheiro buscando caminhar com a juventude na direção da vocação fundamental que é a santidade. O orientador apenas apontará os diversos caminhos pelos quais se poderá chegar ao mesmo fim. Quer dizer que é preciso evitar a pirataria vocacional, segundo a qual se tende logo a fechar os horizontes das pessoas numa única forma de vocação específica, ignorando-se a riqueza da diversidade. Convém recordar que as vocações são de Deus, para seu Reino e para sua Igreja.
O serviço do discernimento vocacional é criar as condições necessárias, oferecer os meios adequados para que cada pessoa descubra o potencial que existe dentro de si e, aos poucos, encontre o modo concreto, o caminho melhor para responder ao chamado divino.
Critérios antropológicos
Considerando a unidade do ser humano, é indispensável pensar também num modo bem concreto de favorecer o encontro de uma pessoa livre e consciente com o Deus que chama e envia. Deus chama na realidade no dia-à-dia da vida, é importante que quem acompanha seja capaz de ajudar o jovem a superar possíveis impasses, lacunas, barreiras existenciais as quais criam obstáculos para o crescimento de uma personalidade equilibrada. O objetivo desse acompanhamento é contribuir para que essa resposta vocacional se dê num clima de verdadeira autonomia.
A pessoa vocacionada precisa ser dona dela mesma, a fim de que seja capaz de assumir com convicção a responsabilidade o chamado que lhe é feito.
A importância de trabalhar a capacidade da pessoa de se auto-conhecer. Não é possível uma resposta autêntica por parte de quem não se conhece e não é dono de si mesmo. É necessário saber lidar, com naturalidade e equilíbrio, com as próprias emoções, com os movimentos de sua afetividade, com seus instintos com suas tendências e com sua sexualidade.
Faz parte desses critérios antropológicos ajudar os jovens a compreender melhor suas vivências pulsionais, suas tendências e o significado desses elementos no dinamismo da vida da pessoa humana.

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